Não é preciso ser um gênio consultor para saber que as empresas locais são mal geridas. As patologias corporativas são visíveis e notórias: os intrincados jogos de poder da alta gestão, a letargia e o permanente estado de confusão mental dos administradores e o frenesi amalucado dos profissionais, sempre apagando incêndios criados ou imaginários. A má gestão vitima consumidores, cidadãos e funcionários. Das pequenas às grandes empresas, das organizações sociais às burocracias estatais, quem conhece por dentro as empresas locais costuma se perguntar: como pode tal despautério funcionar?
Não deve servir de consolo, mas as empresas locais não estão sozinhas no fundo da classe. Elas têm a companhia de congêneres indianas, gregas, chinesas e até mesmo suecas e norte-americanas. Um estudo recente, conduzido pelos economistas Nick Bloom, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e John van Reenen, da London School of Economics, no Reino Unido, procura iluminar o fundo, o meio e a frente da classe. Revela que maus comportamentos existem em todo lugar, mas a incidência em Pindorama está além do tolerável.
Os pesquisadores partiram de uma questão antiga: como explicar as diferenças de produtividade entre empresas? Economistas costumam atribuir tais diferenças a uma “caixa-preta”, na qual repousariam as misteriosas práticas gerenciais. Administradores, por sua vez, são hábeis em escrever livros sobre as “melhores práticas gerenciais”, mas têm incrível dificuldade para provar cientificamente que o que propõem realmente gera efeitos positivos duradouros.
Bloom e Van Reenen pesquisaram mais de 4 mil empresas industriais em doze países, incluindo Pindorama. Para garantir a consistência científica, eles desenvolveram um questionário com dezoito práticas gerenciais, agrupadas em três temas. O primeiro é o monitoramento, ou quão bem as empresas acompanham suas próprias atividades e as aperfeiçoam de forma contínua. O segundo tema é o estabelecimento de metas, ou quão bem as empresas definem seus objetivos e as ações para atingi-los. O terceiro é o sistema de incentivo, ou quão bem as empresas gerenciam seus funcionários, premiando e mantendo aqueles que têm melhor desempenho. Cada prática gerencial foi avaliada a partir de uma escala de 1 (pior prática) a 5 (melhor prática), por entrevistadores treinados.
Tomando-se o conjunto de dezoito práticas, agrupadas nos três temas, os pesquisadores obtiveram índices gerais para os doze países. Na frente da classe, com média de 3,3, surgiram os Estados Unidos, a pátria mãe do management. Em seguida, com médias superiores a 3,1, vieram Alemanha, Suécia e Japão. O Brasil ficou no fundo da classe, com a média de 2,7, pouco à frente de Grécia, China e Índia.
Além de variar entre países, o índice também varia entre as empresas dentro de um mesmo país, o que não deve surpreender. Mesmo os países mais bem colocados, como Estados Unidos e Alemanha, têm algumas empresas no fundo da classe, fazendo companhia ao batalhão de empresas brasileiras e indianas.
Mas o que condiciona a qualidade das práticas gerenciais? Bloom e Van Reenen identificaram três fatores. O primeiro é a competição. Um mercado mais aberto e competitivo elimina as empresas mais incompetentes e induz à melhora contínua das práticas gerenciais das empresas mais competentes. É o velho e bom darwinismo, aplicado ao mundo dos negócios. O segundo fator é o controle e a gestão familiar. Empresas controladas e gerenciadas por famílias tendem a apresentar as piores práticas e o pior desempenho, especialmente quando o critério de escolha do primeiro executivo é o da primogenitura, ou seja, o herdeiro do comando é o filho mais velho. O terceiro fator é o grau de internacionalização. Empresas multinacionais e até mesmo domésticas que exportam costumam frequentar a frente da classe.
Para as empresas, boas práticas gerenciais estão relacionadas com produtividade, lucratividade e perenidade dos negócios. Uma gestão mais avançada também tem reflexos positivos sobre a qualidade de vida dos empregados e até mesmo do consumo de energia.
Os resultados da pesquisa levam a uma conclusão e a uma indagação. A conclusão é que, apesar de Pindorama ter um grande contingente de firmas no fundão, trazê-las para a frente da classe não requer milagres. De fato, as práticas gerenciais avaliadas na pesquisa são simples, conhecidas e consagradas. A indagação é a seguinte: o que estarão ensinando os milhares de programas de graduação e pós-graduação de administração do País? Para explicar tal mistério, talvez seja necessária uma nova pesquisa.
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=4004
sábado, 28 de novembro de 2009
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