MCBROOM era um chefe intimador, cujo mau gênio intimidava os que trabalhavam com ele. Essa característica já seria ruim em um escritório, fábrica ou loja. Mas ele era piloto de uma empresa aérea. Um dia em 1978 o avião de McBroom aproximava-se do aeroporto quando ele notou um problema no trem de aterrissagem e adotou a manobra padrão de circular o campo em alta velocidade enquanto remexia no mecanismo. McBroom ficou tão obcecado com o trem de aterrissagem que não percebeu que o combustível estava acabando. Mas os co-pilotos tinham tanto medo da fúria dele que nada disseram, mesmo percebendo a tragédia iminente. Então o avião caiu, matando dez pessoas.
Hoje essa história real é contada como advertência nos treinamentos de segurança dos pilotos de empresas aéreas. Em 80% das quedas de avião os pilotos cometem erros que poderiam ser evitados, sobretudo se a tripulação trabalhasse com mais harmonia. O trabalho em equipe, linhas de comunicação abertas, cooperação, saber escutar e saber dizer o que pensa são enfatizados aos pilotos juntamente com as habilidades técnicas.
A cabine de um avião é um microcosmo de qualquer organização de trabalho. Mas sem o dramático feedback que é a queda de um avião, os efeitos destrutivos das deficiências emocionais passam em grande parte despercebidos pelos de fora da cena imediata. Porém, os custos ocultos podem ser lidos em sinais como menor produtividade, perdas de prazo, erros e acidentes e alta rotatividade. As deficiências em Inteligência Emocional no local de trabalho geram custos inevitáveis para o balanço financeiro de qualquer empresa. Quando essas deficiências se generalizam, os resultados podem ser muito graves.
O custo/benefício da Inteligência Emocional é uma idéia nova nas empresas e alguns administradores talvez considerem difícil de aceitar. A maioria acredita que o trabalho envolve e requer apenas o aspecto intelectual das pessoas, e não o aspecto emocional. Mais do que isso, muitos temem que cultivar competências como a empatia possa prejudicar o fluxo do trabalho, a tomada de decisões e a busca das metas.
Entretanto, as mudanças sócio-econômicas e o progresso científico levaram a um novo entendimento que muitas empresas já estão adotando. A nova realidade competitiva paradoxalmente requer elevados graus de cooperação e sinergia, o que exige maiores competências emocionais no local de trabalho e no Mercado. A Inteligência Emocional está sendo cada vez mais valorizada, mesmo que não se conheça ou não se utilize o termo. A hierarquia rígida com seus chefes dominadores pode fazer uma organização ser eficiente, mas não pode torná-la eficaz. A virtuose nas aptidões intra e interpessoais é o futuro.
Os efeitos da deficiência em Inteligência Emocional são bem evidentes se quisermos perceber. Quando as pessoas estão emocionalmente perturbadas, elas não se lembram bem, não acompanham mentalmente, não raciocinam direito, não aprendem com clareza e nem tomam decisões com equilíbrio e bom senso. O intelecto e as competências técnicas necessitam de equilíbrio e maturidade emocionais para funcionar com plena eficácia. A tensão emocional excessiva e constante torna as pessoas intelectualmente limitadas.
No lado positivo, imagine os benefícios para o trabalho das competências emocionais básicas: as capacidades de autoconsciência, autodisciplina, automotivação, entrar em estado de fluxo, empatia, comunicação, lidar com discordâncias, cooperação. A autêntica liderança não é dominação, mas a arte de persuadir as pessoas a trabalhar para um objetivo compartilhado. E para a administração da própria carreira é essencial reconhecer nossos mais profundos sentimentos, crenças e valores sobre o que fazemos e queremos fazer.
Três aplicações da Inteligência Emocional são especialmente importantes: (1) a habilidade de apresentar queixas de formas construtivas, (2) criar um ambiente em que a diversidade não seja apenas tolerada, mas valorizada e (3) as redes de ligação interpessoal.
(Adaptado do livro “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman)
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