Durante grande parte de sua História, Portugal e Espanha travaram uma intensa luta para preservar suas independências políticas e identidades nacionais. Essa luta para sobreviverem como nações requeria comandantes fortes e incontestes e uma alta coesão interna. O resultado foi uma organização social altamente centralizada, diferente da maioria das nações da Europa ocidental cujo sistema feudal permitiu maior distribuição e balanceamento do poder. A concentração de poder nas mãos de uma única pessoa acostumou o povo à inércia quanto ao seu destino e aguardar providências desse Protetor do Povo e Salvador da Pátria. E esse padrão transferiu-se para suas colônias.
Esse fenômeno pode ser observado até hoje em nossa cultura, tanto na política quanto na vida empresarial e pessoal. As pessoas esperam uma “salvação” ou solução vinda de fora, de algum outro lugar, concentrada na figura de um único personagem. Não acreditam ou nem sequer conhecem suas próprias forças e capacidade de solucionar. Ficam aguardando ansiosamente um líder carismático surgindo de repente, pronto para destruir o inimigo, detentor de todas as respostas e soluções.
Esse traço cultural causa efeitos prejudiciais na sociedade brasileira e na nossa vida pessoal. À medida que esperamos um agente externo para resolver as dificuldades, há uma ausência de iniciativa e compromisso com o que nós podemos fazer e não assumimos nenhuma parcela de responsabilidade nem perante os resultados negativos obtidos nem pelos resultados futuros potencialmente positivos.
Outra característica deste traço cultural: confundimos “responsabilidade” com “culpa” e queremos nos livrar totalmente delas. Ou então as assumimos de uma forma disfuncional. Rejeitamos a auto-análise (e conseqüentemente a autocrítica). É muito difícil dar e receber feedbacks, pois tanto quem emite quanto quem recebe tende a levar para o lado pessoal em vez de se concentrarem em fatos, princípios e objetivos. Na ocorrência de insucessos ou de uma fase de estagnação ou degeneração, toda a responsabilidade é atribuída ao líder atual e aguarda-se esperançosamente o novo Salvador da Pátria. Alguns políticos desonestos e outros líderes manipuladores exploram magistralmente em benefício próprio esse traço cultural.
Precisamos erradicá-lo de nosso modo de pensar, falar e agir substituindo-o por um paradigma de "responsa + habilidade" para modificar os resultados que obtemos em nossa vida pessoal, profissional e organizacional, em termos não apenas de êxito quantoa metas, mas também em bem-estar emocional e existencial.